Ao longo da minha vida (e
ela não é tão longa assim) eu aprendi enfrentar o medo a qualquer custo. Não
estou falando de nada filosófico como os orientais gostam de dizer, tipo
concentrar a energia, dominar o medo... Não. Estou falando de enfrentar o medo
mesmo, da forma mais grotesca possível.
Não estou aqui para julgar
se este é o jeito certo e nem para dizer que você deve fazer isso. Apenas estou
dizendo que desta forma, para mim, funcionou. Medo de altura, de multidão, de
falar em público, de admitir meus erros... Medo de torcer o pé, de não ser
capaz de fazer algo ou de me frustrar nos estudos são alguns exemplos.
Porém de um tempo para cá me
deparei com um medo que nem imaginava existir: o medo da normalidade.
Desde que “mergulhei” no
mundo dos exercícios físicos e toda a filosofia envolvida no Parkour, uma coisa
que eu sempre fiz questão (e tenho muito orgulho disso) é de não me incomodar
com o que os outros pensam.
“Olha aquele cara andando de
quatro com uma calça ridícula”.
“Vou dar uma enxada na mão
desse moleque e mostrar pra ele o que é trabalho”.
“Não tem mais nada pra fazer
não vagabundo? Vai destruir o muro!”
... São algumas da expressões
que eu aprendi a deixar passar. Entra num ouvido e sai no outro, sabe? Não que
eu tenha me tornado ignorante a ponto de não ligar para a opinião dos outros –
tenho muito cuidado para não acontecer isso -, mas simplesmente aprendi que as
pessoas quando não tem nada pra falar, falam merda. Então respeitar sem
discutir essas expressões foi uma forma de economizar energia e tempo até que a
pessoa esteja disponível para eu explicar o que eu estava fazendo “de quatro”.
Então, como ia dizendo, de
um tempo para cá eu passei por uma fase bem “puxada” de estudos e ao mesmo
tempo tive de ficar sem treinar por causa de uma cirurgia. Estes dois
acontecimentos fizeram com que eu inevitavelmente caísse numa rotina “normal”.
Eu simplesmente acordava,
estudava, entrava na internet, e dormia. Passei semanas assim, sem fazer nada
de diferente. Virei uma pessoa totalmente normal... Meu dia era comum, as
coisas que eu fazia eram comuns, eu deitava no travesseiro pensando “Porra,
hoje não fiz nada de diferente... Minha vida tá totalmente monótona”.
Foi uma fase meio tensa... Tive
que buscar me concentrar na minha recuperação e tirar proveito dela para
estudar bastante... Além disso, li alguns livros que eu gosto e que me fizeram
manter-se no mundo do Parkour, mesmo sem praticá-lo fisicamente.
Esta fase também foi
importante para mim enfim entender por que diabos as pessoas param de treinar
Parkour. Antes disso simplesmente eu não via sentido em parar de fazer uma
coisa que trazia tantos benefícios e mudava tanto a vida das pessoas... Tive vários
amigos que caíram nessa “normalidade” e eu simplesmente não entendia. Pior
ainda, eu não sabia como ajudar.
A explicação que encontrei
foi nessa droga de normalidade. Infelizmente passamos por fases na vida em que
a rotina é necessária. Os encargos que a sociedade nos impõe parecem cegar e
então deixamos de treinar.
Nem sempre é igual aconteceu
comigo. A namorada, o trabalho exaustivo, os vícios que surgem, a falta de
motivação... São coisas que nos levam para a normalidade e, quanto mais tempo entendermos
que isso faz parte do processo de crescimento, mais fácil será sair.
Quanto mais rápido
entendermos que vamos passar por isso e, quando chegar, admitimos que estamos
nesta fase, mais rápido sairemos desse processo que eu chamo de “normalização”.
Não pretendo discutir sobre
sociedade nem sobre sistema capitalista, mas com base na minha experiência eu
digo com toda a sinceridade: ser normal é uma droga. Quando você deixa de fazer
algo diferente das outras pessoas sua motivação diminui, vários medos surgem,
você se acomoda e acaba virando só mais um peso na sociedade. Quando você se
habitua a ser diferente, você deixa vários preconceitos e medos de lado e acaba
se tornando um veículo de boas ações. Aquela “vergonha” deixa de ser um empecilho
para suas ações.
Resumindo, você deixa de ser
apenas mais um peça qualquer e se torna uma peça que dá movimento ao jogo.
Um abraço para todos os meus
amigos que caíram na normalidade. Escrevi este texto pensando em vocês e espero
que ele abra seus olhos... vocês fazem muita falta!
Me identifiquei muito com o texto, e passei/passo por essa fase que sufoca a gente !
ResponderExcluirMe ajudou bastante.Bons treinos e boa luta !
Mano parabens.Me identtifiquei bastante,passei por uma fase de normalidadee tbm mas essa fase ja passou.Agora to firmeee e forte.Ser normal pra q né..abraços mano...
ResponderExcluirVolta logo pra gente poder treinar junto.