sexta-feira, 23 de março de 2012

O que aprendi correndo

Comecei a correr alguns meses antes de conhecer o Parkour. Eu e um amigo sonhávamos em entrar para o exército e começamos a treinar sério todos os dias, num condomínio perto de casa.
Lembro como se tivesse acabado de voltar de um desses treinos... Corríamos cerca de 400 metros em volta de uma quadra e ao final de cada volta, fazíamos barras, flexões e abdominais.
Meu amigo (o qual ainda vou escrever sobre ele num post futuro) já tinha um preparo físico desgraçado e eu, com minhas gordurinhas acumuladas em anos de sedentarismo na frente do computador, tentava acompanhá-lo. Naquela época, confesso que ficava meio frustrado por ser tão ruim e vivia criando desculpas para justificar minha incompetência. Por outro lado, ele me incentivava a continuar e dizia que com o tempo eu também ficaria bom. Este incentivo me ajudou muito a continuar e até hoje me lembro daquelas manhãs em que no final de 10 circuitos, minhas pernas tremiam e nós sentávamos debaixo de uma árvore que ficava ao lado da quadra. Como sempre, eu não parava de dar desculpa e hoje eu sei a paciência que ele teve de ter comigo.
Continuamos treinando, ele evoluía a cada dia e eu sempre muito pouco. Foi ai que eu resolvi parar de dar desculpas e confiar no treinamento como este meu amigo fazia. Alguns meses depois o resultado começou a aparecer e eu aprendi uma coisa que levo comigo até hoje:

"Desculpas não vão resolver seu problema."



Aprender a parar de dar desculpa não é fácil. Não pense que você vai se livrar desse hábito terrível de um dia para outro e muito menos que depois de um tempo, você nunca mais dará desculpa. Fomos educados em uma sociedade onde estamos sempre sendo observados e qualquer erro precisa ser explicado. Não aceitamos o fracasso então criamos desculpas para justificá-los.
Em vez de “jogar pra debaixo do tapete” seu fracasso, o aceite e aprenda com ele.

O tempo passou, eu conheci o Parkour e os treinos “militares” acabaram ficando de lado. No começo foi difícil adaptar o Parkour - que no começo eu apenas via como um esporte radical onde o que importava era o quão longe você pulava - com os treinos de corrida.
Fiquei muito tempo sem correr por achar que eu tinha que treinar só técnicas. Por mais que minha mente dizia “você precisa correr!”, eu achava que se eu corresse ficaria mais cansado e meu Parkour ficaria prejudicado.
Comecei a engordar alguns quilos e então achei que era hora de parar de pensar e começar a agir.
Corria todos os dias e percebi com o tempo que meu Parkour melhorou consideravelmente. Tinha mais disposição e ficava muito mais concentrado no treino do que antes. Então percebi a importância de experimentar as coisas antes de julgá-las. O resultado satisfatório só virá quando você entender que...

"Autoconhecimento é mais importante que o conhecimento geral."

Antes de começar qualquer treino milaborante, procure se conhecer e evite seguir o treino dos outros. Cada um tem suas inspirações e limitações e ninguém melhor que você próprio para determinar as suas.

Quatro anos se passaram e hoje eu estou aqui expondo o que eu aprendi com os treinos. Acabei de voltar de uma corrida (estou treinando para maratona) e durante o treino eu pensei em escrever este texto.
Fiquei um tempo parado por causa de duas cirurgias na vista e assim que recebi a notícia que podia voltar a fazer exercícios físicos, coloquei na minha cabeça que tinha que emagrecer. Por mais neurótico que possa parecer, ficar 6 meses parado me fizeram me sentir um inútil e ver seu peso aumentar enquanto você não pode fazer nada pra evitar isto, é um pouco torturante.
Pensei nisso tudo enquanto corria e percebi que apesar da disciplina que eu sempre tive nos treinos, a paciência nem sempre foi minha companheira. Muitas vezes comecei a treinar corrida ou físico e depois de duas semanas, quando não via resultados, parava e passava para outro treino. Com isso eu nunca dei tempo suficiente para que os resultados chegassem e vivi procurando “o treino perfeito”.
Agora que só estou correndo (ainda não posso treinar força), percebi que o resultado dos treinos não vem tão rápido assim. Na verdade ele demora a chegar e você tem que botar na cabeça que ele vai chegar.
Demorou um pouco, mas enfim eu aprendi...

"A disciplina é importante, mas você só colherá seus frutos se tiver paciência."

Se você é como eu, tem dificuldade em manter um treino por meses por que não vê resultados imediatos. Dê uma chance para você mesmo e siga seu treino por no mínimo três meses. Se tiver bons resultados, terá valído a pena. Se não, pelo menos você saberá que treinou até o fim.
Antes de voltar a treinar estava pesando 83 kg e hoje, depois de um mês treinando só corrida, peso 77 kg.

Não que eu esteja preocupado com peso. Sei que estou perdendo músculos também, mas seguindo um treinando pesado até agosto eu sei que meus ganhos serão muito mais mentais do que físico.
Afinal, eu sei que terei ido até o fim.

sábado, 10 de março de 2012

Informação nunca é demais


Muitas pessoas, principalmente quando estão começando a treinar, me perguntam se virar mortal é Parkour.
Bem, não as culpo por isso. A mídia sempre valoriza a parte estética da coisa e nem sempre esclarece o que o termo Parkour significa de verdade. Além disso, com o YouTube qualquer pessoa pode filmar o que quiser e dar o nome que bem entender. Tudo isso torna complicado chegar para as pessoas o verdadeiro sentido do Parkour, o treinamento útil e a disciplina que esta por trás dos movimentos “fantásticos”.

Comecei o texto com uma pergunta e acabei não respondendo...
Não, Parkour não tem mortal.

Não é uma questão de preconceito ou qualquer coisa do tipo. Acontece que desde que os primeiros franceses lá na década de 80 começaram a praticar, o Parkour era e continua sendo um método de treinamento onde o objetivo principal é puro e simplesmente:

“Se deslocar de um ponto ao outro em meio urbano ou natural, sem uso de equipamentos e da forma mais rápida e eficiente possível.”

É simples, não?
Apesar de ser simples, como eu disse antes, a mídia e as pessoas que querem aparecer à qualquer custo acabam passando uma imagem totalmente distorcida da coisa.

E quem conhece e pratica o Parkour de forma correta, o que pode fazer? De fato, não se pode fazer muita coisa. Mas simples atitudes como explicar para o tiozinho que “isso que você tá fazendo” é Parkour, uma disciplina que busca eficiência e fortalecimento do corpo, já ajuda muito a propagar a informação correta.

Segue dois vídeos para um melhor entendimento do que eu quis passar com este breve texto. O primeiro é uma entrevista de David Belle e o segundo, um vídeo muito bom de um francês treinando Parkour, literalmente