domingo, 7 de dezembro de 2014

Mar de dois palmos

Qual foi a última vez que você se dedicou exclusivamente a melhorar alguma habilidade e/ou desenvolver uma nova?
 
Honestamente, eu mal consigo me lembrar da última vez que fiz isso. Parece que cada dia que passa eu sou bombardeado cada vez mais informação e conteúdo de todos os tipos que me despertam interesse mas, no final das contas, eu conheço um monte de interessante mas não consigo me dedicar exclusivamente a nenhuma delas.
 
Falta de tempo? Não. Até onde eu sei meu dia tem a mesma quantidade de horas de que todos os outros seres humanos da Terra.
 
Falta de interesse? Também acho que não. As vezes eu chego a delirar pensando sobre determinado assunto (cultura japonesa por exemplo). Leio livros, assisto documentários e tudo. Mas por alguma razão este "fogo" sempre acaba.
 
A impressão que eu tenho é que as coisas vêm acontecendo tão rapidamente, que antes mesmo de trabalhar uma ideia você já está sendo bombardeado com novas informações. Tem dia (principalmente os dias que eu fico mais online) que eu recebo tanta informação que de manhã eu quero viajar pela África e produzir um documentário, à tarde eu quero abrir uma empresa de tecnologia para ficar bilionário e, à noite, eu só quero encontrar felicidade e paz interior através do budismo.
 
Se parece louco para você, imagine o que acontece dentro de minha cabeça.
 
Enquanto escrevo este texto acabei me lembrando da ultima vez que eu me dediquei exclusivamente a uma atividade. Foi nos anos de 2008 e 2009, quando eu comecei a treinar Parkour e "viajar" no mundo das atividades e desafios físicos. Minha rotina nestes dois anos foi mais ou menos assim:
 
- Ir dormir pensando o que treinaria no dia seguinte.
- Sonhar que estava treinando em algum lugar fodástico que tinha visto em algum vídeo.
- Acordar ansioso para treinar.
- Passar a manhã toda na escola pensando rotinas de treinos e o que eu tentaria naquele dia.
- Treinar o resto do dia.
- Dormir pensando como o treino foi e o que eu poderia fazer no dia seguinte para melhorá-lo.
- Retornar ao primeiro item.
 
Não queria usar o termo "bons tempos" por que acho meio clichê. Mas porra, BONS TEMPOS! Estes dois anos foram tão intensos que o Parkour acabou ficando tatuado em minha alma, ao ponto de até hoje eu não conseguir imaginar uma vida sem ele.
 
Eu ainda penso o Parkour o dia todo, e procuro treinar todos os dias. Mas todos as responsabilidades e preocupações acabam anestesiando estes pensamentos ao longo do dia. Não acho que isso seja totalmente ruim. Infelizmente a vida não é tão simples como imaginamos que seja quando temos 17 anos e uma hora ou outra você tem que tomar as rédeas. É inevitável.
 
Ou talvez a vida seja simples mesmo, e somos nós que fazemos questão de torna-la complicada... Enfim.
 
Gostaria de deixar registrado aqui este vídeo publicado pelo grupo El Circo no Facebook. Já assisti ele umas oito vezes e agora mesmo vou assistir de novo. Recomendo a quem for assistir (se é que alguém está lendo isto...) apague as luzes de onde estiver, coloque fones de ouvido e assista o vídeo até o final. Viaje por alguns minutos. Repare na concentração e delicadeza com que os artistas trabalham.
 
O vídeo é interessante pois não há narração ou comentários. Os gestos e a maneira como os artistas se comportam no vídeo já deixam claro que eles dominam aquilo que estão fazendo. Sabe-se lá quantos anos levaram para adquirir tão maestria ao ponto de parecer tão natural.
 
Por ser talvez a pessoa mais destratada  que já existiu, este tipo de vídeo me incomoda bastante. A admiração sempre se transforma em indignação, que se transforma e raiva e assim se cria uma sopa de emoções que no final não leva a nada.



No Podcast Café Brasil o Luciano Pires usa um termo bem interessante para descrever no que estamos nos tornando com essa enxurrada de informação: mar de dois palmos.
 
Sabemos muito pouco sobre muitas coisas. Que tal nos dedicarmos pelo menos 2 horas a melhorar ou adquirir uma habilidade hoje?
 
É claro que você não vai atingir um nível como o dos artistas do vídeo em duas horas. Mas com certeza vai haver uma melhora significativa.

Eu resolvi me dedicar a escrita, o que resultou este texto.



Abraço à todos! :p

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Grizzly Ultra 50k

Praticamente um mês após correr meus primeiros 100 km, lá estava eu de novo, indo correr minha segunda ultra maratona no Canada.

Desta vez a corrida seria em Canmore, uma cidade rodeada por montanhas e vizinha da reserva natural mais visitada no Canada (Benff).
 
Canmore é linda. Não há nenhuma indústria na região e por isso o ar é sufocante de tão puro. Além disso não importa onde você esteja dentro da cidade, para onde olhar verá montanhas.
 
 

Cheguei lá mais ou menos 10 da noite do dia anterior da corrida. Fiquei num hotel bem "mais ou menos" (sim, nem tudo é perfeito aqui no norte!) e acabei tendo que dormir com o estômago vazio por que a internet do hotel estava com problema, e não tinha como eu pedir uma pizza ou qualquer outra coisa para comer, como faço sempre na noite anterior de alguma corrida.

Não deixei que isto me abalasse. Esta corrida seria o meu "prêmio" pelos 100km do mês anterior.

A distância era apenas a metade da anterior (50km), com um percurso muito mais amigável e uma vista linda! Estava confiante e sabia que era só levar na boa que eu terminaria a corrida feliz da vida e ainda por cima sentindo minhas pernas.

Não tenho muito o que escrever sobre a corrida. No geral foi tranquila, sempre com alguém em vista. Tive que caminhar só no finalzinho, o que me trouxe um tempo bem satisfatório de 6 horas e 35 minutos - não que isto seja de muita importância, mas saber que eu sou capaz de correr uma distância significativa com este tempo me motiva a tentar distâncias maiores no futuro.

Acho que é isto. Vou deixar aqui algumas fotos de recordação. Dizem que no inverno é ainda mais bonito por conta da neve no topo das montanhas e tal, mas o frio é insuportável.









 



 
 

domingo, 7 de setembro de 2014

100 km

Vinte e quatro horas depois de cruzar a linha de chegada, já em casa, finalmente caiu a ficha... Eu consegui corer 100 km.

Pensei muito se deveria escrever sobre isto. Afinal, eu sempre repeti para mim mesmo que "eu corro para evoluir pessoalmente, não para me vangloriar". Mas sei lá, achei que seria legal expor minha experiência para aqueles que tem curiosidade. Peço desculpas se o texto parecer um pouco vaidoso. Alimentar meu ego aqui não é o objetivo e se você ler o texto até o final vai entender por que.

Uma semana antes

Sempre me esforço o máximo para não criar expectativas sobre algo. Mas confesso que desta vez foi bem difícil... Sempre li livros e assisti documentários de pessoas incríveis relatando a experiência de correr por tantas horas seguidas e... Estas pessoas eram incríveis, lendas vivas com super poderes. Tentar imitar eles para mim estava fora da realidade, mas eu queria pelo menos tentar, sabe? Dar um passo além, pelo menos uma vez na vida.

Descansei durante a semana, me alimentando bem com carboidratos e me hidratando todo o tempo. Uns quatro dias antes da corrida eu resolvi dar uma corridinha leve só para testar as lanternas. Nada muito pesado.

0 - 14km

O primeiro checkpoint da corrida estava posicionado a aproximadamente 14km da linha de partida. Não tive muitos problemas nesta primeira parte, o clima estava perfeito e a maior parte do tempo tinha pessoas por perto para conversar e fazer comentários sobre o percurso. Deu para aprender um pouco sobre a história da corrida e também receber conselhos dos veteranos.

É impressionante a quantidade de pessoas que se dispõem a correr este tipo de corrida todos os anos. Só este ano, tinham cerca de 150 pessoas correndo os 100km. Também me impressionou a diversidade das pessoas e a idade.

A maioria das pessoas acreditam que corredores de longas distâncias devem ser obrigatoriamente geneticamente beneficiados (isto é, magro, com canela fina...) e não muito velhos.

Eu já tinha lido algo sobre isto mas nunca presenciei na prática: a maioria dos corredores lá tinham acima de 40 anos (alguns mais de 60), e também tinha gente de toda forma possível: magro, gordo, alto, baixo, concentrado, extrovertido. Mal humorado, piadista, filósofo e até pessimista.

14 - 44km

Lethbridge fica localizado na parte central da província de Alberta, no Canada. O clima no verão pode chegar a 36 graus e, em alguns pontos do percurso da corrida, ate 42 graus. Corremos ao longo de um canyon. Portanto a maior parte do percurso era constituído de subida e descidas íngremes.

A outra parte do percurso era basicamente lama. Legal. Ótima escolha para os primeiros 100 km Igor!

Corri estes 30 km relativamente bem, tentando me controlar muito para não gastar toda minha energia (o que não adiantou nada no final das contas) pois sabia que tinha muito chão pela frente. Nesta parte eu comecei a me preocupar um pouco com a noite pois alguns trechos da trilha eram bem confusos e a sinalização não estava muito boa. Além disso tinha muita poça de lama que não dava para ver devido a grama alta.

Neste trecho também descobri como o quadrupedal pode ser útil na prática. Alguns subidas eram tão inclinadas que eu achei mais eficiente subi-las de quadrupedalando do que esmagar meu quadríceps mais do que já estavam esmagados.

Perdi a conta de quantas pessoas me perguntaram se eu estava me sentindo bem e se eu precisava que alguém me buscasse. Mas as vezes você precisa deixar a vaidade de lado e fazer o que deve ser feito. Encargos sociais que você aprende a ignorar com o Parkour.

As descidas também são um grande problema neste tipo de corrida. Se você não estiver fisicamente preparado o impacto nos joelhos, pélvis e parte inferior da coluna podem tornar sua corrida uma sentença de lesão para o resto da vida. O que leva muitas pessoas a desistirem da corrida.

44 - 60 km

Depois de superar minha quilometragem (o máximo que tinha corrida antes disso foi uma maratona, 42km), recebi algumas palavras de encorajamentos dos voluntários e comi bastante batata chips para repor o sódio do organismo.

Uma voluntária se ofereceu para encher minha mochila com água e disse que só faltava 7km para completar uma volta. E daquele checkpoint para o final da primeira volta só tinha uma subida e descida.

Isto me animou bastante. Sério. Meu joelho direito estava começando a me preocupar.

Saí do checkpoint feliz da vida por estar quase terminando a primeira volta e até me dei o direito de correr um pouco mais rápido. Quando eu me deparei com a colina que eu teria que subir, quase que eu voltei para agradecer a moça por não ter me dito que a ultima subida da volta era a mais inclinada e longa.

Esta subida sugou todas as energias que eu tinha economizado até aquele momento e eu tive que ter muito controle psicológico para não parar ali mesmo para descansar.

Foi nesta hora que eu me dei conta que eu iria correr algumas boas hora à noite, só com a lanterna. E também me dei conta que era melhor parar de pensar em tempo ou qualquer coisa do tipo. Afinal, eu teria que correr aquilo tudo de novo (segunda volta), à noite, no frio e depois de 9 horas de corrida constante.

60 - 75km

Pela primeira vez eu parei de correr direto e tive que começar a caminhar nos percursos que eu achava que me sugaria muita energia. Todo meu corpo estava dolorido, mal conseguia dobrar meu joelho direito e meus músculos das pernas já tinha ido para o espaço a tempo.

Tentei traçar pequenos objetivos durante a prova, como acompanhar tal pessoa até determinado lugar. Ou correr por 10 minutos seguidos. Subir aquela parte sem parar... Beber água só depois que eu descer ali.

Neste momento eu acho que falta glicose e seu cérebro começa a te pregar peças. Estava cada vez mais difícil concentrar no objetivo, eu já mal conseguia conversar com as outras pessoas por que eu simplesmente não lembrava a maioria das palavras em inglês.

Parar ajudar, foi neste trecho que o sol se pôs eu tive que começar a correr com a lanterna na cabeça. Quando fiz os testes na semana anterior eu achei que seria melhor levar uma bandana para não machucar a testa com o atrito, e isto foi essencial por que mesmo com a bandana minha testa ficou marcada.

Quando cheguei no checkpoint do 75 km decidi não ficar muito tempo ali. Pensar muito neste ponto da corrida não era uma boa ideia... Ainda mais com pessoas super carinhosas fazendo de tudo para te ajudar e um cantinho quetinho, com um travesseiro te chamando "Vem cá Igor, só uma sonequinha!".

75 - 91 km

Estes 16 km foram, de longe, os mais difíceis de minha vida. Este trecho era o mais longo sem nenhum checkpoint (ou seja, sem comida e água) e era praticamente apenas subida e descida. Eu estava sentido tanta dor que nas descidas eu simplesmente colocava a bunda na terra e ia arrastando até lá embaixo. Nas subidas eu subia engatinhando e me agarrando a grama e as vezes aos cactos, o que fez minha mão estar doendo bastante até agora - e me impediu de escrever este texto mais rápido, uma vez que eu não consigo usar a ponta do meu indicador esquerdo.

Neste trecho eu andei a maior parte do tempo, mesmo nas partes planas. Demorei quase 5 horas para percorrer 16 km e perdi a trilha algumas vezes, Neste trecho eu "taquei o foda-se" para o tempo e disse para mim mesmo que iria terminar a prova, nem que fosse arrastando.

91 - 100km

No checkpoint dos 91 km eu fiz questão de sentar (pela primeira vez em 18 horas) e comer muito. Comi batata, macarrão e me esbanjei nas guloseimas. Conversei com um dos organizadores e vim a descobrir que 25% dos corredores tinha desistido até então. Fiquei um pouco triste imaginando como uma pessoa que desiste deve se sentir mal no dia seguinte.

Depois de 20 minutos, levantei, coloquei minha mochila nas costas e repeti para mim mesmo que era agora ou nunca. Eu estava 9 km do meu objetivo e depois daquilo eu teria as melhores horas de sono da minha vida.

Depois desta horas de sono eu acordaria outro Igor... Eu seria o Igor que correu 100 km e, independente de quantas pessoas existem lá fora correndo mais rápido e ainda mais longe, correr 100km não deixa de ser uma conquista pessoal foda.

Com este pensamento eu sai deste checkpoint correndo igual um maníaco, para só parar na linha de chegada.

Linha de chegada

Os 100 metros restantes foram os mais recompensadores de todo o percurso. Nestes 100 metros um filme passou em minha cabeça... Todo o treinamento e tempo gasto neste objetivo. O cansaço depois de trabalhar 10 horas seguidas e ainda assim sair para correr só não para não perder um dia de treino. Todas pessoas que duvidam e fazem uma cara de "ele não tem noção do que está falando"...

Eu pensei em tudo isto e conclui, antes de cruzar a linha de chegada com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos, o quanto eu tenho sorte nesta vida.

O quanto eu sou sortudo por ter a família que tenho. Ter um pai atencioso e uma mãe que sempre acredita em mim, independente de quão idiota meu objetivo pareça.

Ter primos que comemoram minhas conquistas como se fossem deles próprios. Tios e tias que se orgulham por mim e que me dão força para continuar lutando.

Também pensei em o quanto eu sou sortudo por ter encontrado ano passado as melhores pessoas da Terra! Becky e Pete Lepori. Mr. Joe e Brittany... Cara, o que seria de mim se eu tivesse parado em qualquer outro lugar que não fosse a fazenda deles?

E, finalmente, o quanto eu sou privilegiado pelo destino por ter conhecido o Parkour lá atrás, em 2008.

Todas as transformações que ocorrem em mim desde então. Todas as pessoas estupidamente fortes e inteligentes que eu encontrei até hoje.

É difícil encontrar uma explicação universal e meus pensamentos estão sempre mudando. Mas estes últimos 100 metros me fez pensar o quanto é importante ter pessoas boas do seu lado. Alguém para abraçar, saca? Não importa o quanto durão você seja e nem quantas vezes você repita para Deus e o mundo que você faz tudo sozinho, uma hora ou outra você precisa de ajuda - mesmo que você não se dê conta que está sendo ajudado.

Atitude é essencial, mas ninguém faz nada sozinho...

Considerações finais

Sobre aplausos e gritos de parabéns, cruzei a linha de chegada depois de 21 horas e 19 minutos.

Feliz da vida e muito cansado, fui abraçado por uma mulher que eu nem conhecia e várias outras pessoas vieram me dar os parabéns. Um veio com uma cadeira super confortável (de onde eles tiram estas cadeiras?), outro me trouxe água e até um cobertor.

Não me lembro de muita coisa... Sei que eu estava com muito sono, mal conseguai manter meus olhos abertos. Também estava tremendo bastante. Duas mulheres me ajudaram a levantar e me levaram para um trailer cheio de colchão inflável e cobertor. No caminho eu consegui ver o vencedor das 100 milhas (160 km) cruzando a linha de chegada... Como eu queria ir lá dar meus parabéns! Mas estava muito cansado e só me lembro das mulheres jogando os cobertores sobre mim e dizendo que voltariam em 30 minutos "just to check if you are okay".

Uma coisa é você ler ou ouvir falar de uma pessoa que corre 160 km. Mas quando você vê alguém cruzando a linha de chegada em 21 horas e meia depois de correr 160 km, você meio que se sente motivado. Você vê com seus próprios olhos que isto é humanamente possível.

Depois desta corrida com um percurso tão difícil estou motivado a tentar 100 milhas. Ainda não encontrei nenhuma corrida no final deste ano próxioma de onde eu moro. Portanto ainda não tenho data marcada.

Só mais uma reflexão...
 
É claro que é ótimo ouvir elogios e palavras de incentivo depois de realizar algo como o que eu realizei. Mas também me deixa um pouco triste ver o quanto as pessoas acham que isto é impossível.

Desde crianças somos ensinados que errar é algo ruim, que pessoas boas sempre acertam. E isto é a mentira mais idiota que vivemos hoje.

As pessoas vivem com medo de errar, e por isto não tentam. Aceitam uma vida medíocre e desistem fácil dos seus objetivos. E este é um dos motivos que me levaram a escrever este relato.

Talvez você pense que correr cem quiiometros é uma conquista fora da realidade para você. Que isto é coisa para os geneticamente beneficiados ou que você não iria conseguir por causa disto ou daquilo. Mas a mensagem que eu gostaria de deixar com este texto é que correr 100 km é possível sim! Para a maioria das pessoas.

Você pode correr 100 km, 200 ou 300. Ou pode conquistar o que quer que você queria, mas antes de qualquer coisa, VOCÊ PRECISA ACREDITAR QUE PODE, PORRA!

 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Opinião em insights sobre Brick Mansions

Assisti Brick Mansions (último filme de David Belle) e achei razoável em termos de produção e roteiro. Tem muito mais cenas de Parkour neste filme no que o antigo B13, as pequenas alterações no roteiro vieram a calhar e as cenas de comédia não ficaram tão ruins.
 
Mas, do filme todo, a cena que mais me emocionou foi que o Belle aparece, já no final do filme, treinando as criancinhas pobres do bairro. Porra, foram poucos segundos que criaram um turbilhão de pensamentos em minha cabeça.
 
Um dos aspectos que mais me motivam a continuar praticando Parkour ao longo dos anos é o lado social da disciplina. Passar o que você aprendeu de melhor com  a prática e ver as pessoas evoluindo e se tornando cidadãos melhores para mim vale mais do que qualquer outra coisa.
 
E foi por isso que eu me emocionei no final do filme.
 
Para quem não assistiu, o prefeito da cidade resolve explodir o bairro pobre de Detroit, e para isso envia um policial disfarçado para lá. Depois de um monte de coisa acontecer, o pessoal do bairro pobre faz o prefeito confessar seu plano e posta o vídeo na internet.
 
Com isto o prefeito é afastado e o bairro começa a ser revitalizado. Nas ultimas cenas do filme o policial (Paul Walker, que aliás morreu ano passado) dirige pelo bairro vendo as mudanças que estavam começando a acontecer.
 
É neste momento que aparece a cena do David Belle treinando as crianças a mandarem um underbar...
 
Quando terminei de ver o filme a primeira coisa que me veio a cabeça foram as favelas do Rio de Janeiro e todo o processo de revitalização que estão acontecendo em algumas delas.
 
Não sei se já existem iniciativas como esta, mas seria fantástico introduzir o Parkour neste processo. Tenho certeza que ajudaria muito na conscientização e educação das crianças e as manteria fora do tráfico de drogas.
 
São nestas horas que me dá vontade de pegar o primeiro avião para o Brasil e me engajar num projeto deste tipo... =(
 
Além disto, tudo me leva a crer que a ideia de introduzir esta cena do filme foi do próprio Belle. Na sua entrevista com o Livewire e no texto da Red Bull ele diz que estava começando a se envolver com projetos para promover o Parkour pelo mundo.
 
Se foi ideia dele ou não eu nunca vou saber. Mas tenho certeza que introduzir uma cena como esta no filme foi muito mais importante do que todas as outras cenas de ação existentes.
 
Bons treinos!


sexta-feira, 18 de julho de 2014

Projetos!

Pensando em como as coisas vêm acontecendo em minha vida, eu cheguei a conclusão que, se eu quiser conquistar alguma coisa realmente série e consistente, terei que trabalhar para sair da minha zona de conforto. 

Não é fácil se manter fora dela. O trabalho pesa, você cria compromissos e as responsabilidades só aumentam. Isto tudo só te leva deixar todo o resto (isto é, a diversão, o aprendizado...) de lado e focar "no que realmente importa."

Sair da zona de conforto não é uma coisa que se faz uma vez na vida e pronto. É um desafio diário e muitas vezes injusto. 

Mas, como Albert Einsten disse uma vez, não existe maior insanidade do que fazer a mesma coisa todos os dias e esperar resultados diferentes. 

Motivado não só por esta frase mas também por uma série de reflexões sobre minha vida atual e onde eu quero chegar, resolvi criar alguns projetos para me tornar uma pessoa mais comunicativa, criativamente ativa e, é claro, mais forte. 

Eu não sei por quanto tempo estes projetos vão durar, mas o objetivo principal é tornar disto um hábito.

Também não sei se irá funcionar... Mas quero "pagar para ver".

a) Sair da zona de conforto

Fazer algo que me force a sair da minha zona de conforto todos os dias. Pode ser desenvolver uma habilidade no meu trabalho, aprender uma coisa totalmente nova ou correr mais rápido ou mais longe.

Não importa o que nem o nível de dificuldade. O negócio é fazer algo que me desconforte todos os dias. 

Já imaginou criar este hábito? Eu não!

b) Blog

Outro projeto é manter um blog para postagens diárias. Ele também ajudará no primeiro projeto, pois manterei lá um relatório diário.

O principal objetivo deste blog é simplesmente exercer minha criatividade. Mas eu também quero desenvolver outros idiomas: a maioria das postagens são em inglês e futuramente começarei a postar em francês.

Além disto este blog me forçará a estar sempre escrevendo e criando algo novo... Não tem nada pior do que deitar na cama com o sentimento de que se não se produziu nada naquele dia. Falo por experiência própria!

c) Correr cada vez mais longe

Quem me conhece sabe que a corrida sempre fez parte do meu treinamento. Eu adoro correr e acho que não existe atividade mais bruta... É resistência pura, não existem atalhos ou desculpas.

Ou você corre, ou você não corre.

Este projeto já começou há algum tempo (antes mesmo de eu me mudar para o Canada) mas eu só tive vontade de expo-lo agora.

O projeto é simples: correr cada vez mais longe. 

Estou mantendo uma rotina de treino pesada, correndo cerca de 80km por semana e já fiz minha inscrição para uma corrida de 100km.

O quão longe eu vou correr um dia eu não sei, mas até ano que vêm quero estar correndo pelo menos 160km sem parar.

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Pensei muito se deveria postar isto ou não. São projetos extremamente pessoais e eu não me sinto confortável os tornando público. Odeio parecer pretencioso no sentido de querer aparecer ou dizer o que eu consigo ou não fazer.

Mas depois de um tempo refletindo eu cheguei às seguintes conclusões:

- Compartilhar o que eu vivo pode inspirar outras pessoas a fazerem o mesmo ou simplesmente despertar o interesse delas por algo novo. E isto vale a pena mesmo que todas as outras pessoas pensem que eu estou sendo pretencioso.

- Escrever me faz pensar. E pensar me faz encontrar os erros. Talvez no futuro eu volte nesta postagem e veja o qão eu sou imaturo agora ou eu posso voltar e ver o quão eu sou feliz agora.

- Esta postagem faz parte do projeto do exercício da criatividade. 

- Se esta postagem fizer pelo menos uma pessoa refletir, eu ficarei satisfeito.

No mais, estou muito feliz em ter consigo expressar razoavelmente bem o que estava na minha cabeça... Na maioria das vezes isto não acontece!

Abs

sábado, 12 de abril de 2014

Informação Nunca É Demais #2

Parkour não é algo que você treina de manhã e esquece durante o dia.

Comecei treinar Parkour praticamente sozinho, numa cidade pequena no interior de Minas e, desde sempre, a internet foi minha principal fonte de informação. Foi por ela que eu conheci os praticantes mais experientes e pude me educar para treinar um Parkour mais útil e seguro.

Apesar de reconhecer a importância da internet, algo que me incomoda muito é o fato de encontrar praticamente todos os dias pessoas - muitas vezes praticantes antigos - tratando Parkour como "mais um esporte qualquer".

Pode falar que é vaidade ou qualquer outra coisa, mas na minha opinião Parkour é algo único, uma disciplina de treinamento do corpo e mente para enfrentar situações reais do cotidiano, sejam elas físicas (chegar mais rápido em algum lugar, ajudar uma pessoa, fugir de assaltantes...) ou sejam elas mentais (estudos, carreira profissional, relacionamentos...).

A verdade é que a evolução pessoal e desejo de ajudar os outros que eu encontrei no Parkour eu nunca encontrei em qualquer outro esporte. Aliás, em qualquer outra coisa que eu já tenha feito na vida.

O Parkour é uma disciplina linda, com fundamentos sólidos e inúmeros benefícios para o corpo e para mente. Cada pessoa se beneficia de uma forma particular, nada é imposto. Não existem tabelas ou cronogramas a serem seguidos.

Não sou pessimista. Sei que, pelo menos aqui no Brasil, estamos bem representados e temos pessoas super competentes que fazem um ótimo trabalho no que fiz respeito a divulgação e ensino do Parkour. Por isto, me sinto obrigado a contribuir, mesmo que seja muito pouco comparado ao o que já está sendo feito por eles.

Segue uma lista de links úteis para quem quiser se informar mais sobre Parkour. Além disso, estou disposto a traduzir qualquer artigo ou vídeo que qualquer pessoa me pedir.

Por favor, se você conhece alguém que está começando e está a procura de informações, divulgue os seguintes links:

Quer começar a treinar?

Está a procura de artigos de qualidade?

Tem alguma dúvida sobre a prática?

Está com preguiça de ler, mas ainda quer se informar?

...

Abraço!

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Tradução do post de Stephane Vigroux

Perambulando pelo Facebook hoje eu li um post muito legal do Stephane Vigroux, um dos praticantes mais antigos que ainda treinam e um dos principais ícones do Parkour no que diz respeito a divulgação e ensino da prática.
 
Além disso, Stephane é muito conhecido por ter treinado com David Belle, "fundador" do Parkour.
 
Eu achei o post tão legal que resolvi traduzir =) É uma tradução livre, portanto sintam-se à vontade para ler a versão original na página pessoal do Stephane Vigroux.
 
... ... ...
 
Parkour não é definido por um conjunto de técnicas, um pulo ou qualquer movimento específico.
 
Parkour é definido por uma mentalidade, um jeito de fazer as coisas. Não o que você faz mas COMO você faz isto e também POR QUE você está fazendo. Qual é o seu propósito ou motivação.
 
Conforme eu amadureci como um praticante e amante do movimento eu percebi que a mentalidade permanece e dura além da efêmera performance "wow".
 
Quando eu comecei a treinar Parkour com David Belle eu não estava apenas pulando.
 
Na verdade pular e arriscar nossas vidas ou saúde era talvez só 20-30% dos nossos treinos. Ele estava me ensinando como construir uma armadura corporal através de vários exercícios de condicionamento, como lutar (na verdade voltando àqueles dias as sessões de lutas estavam mais para ter meu traseiro chutado), como levantar uma rocha pesada e lança-la, levantar árvores mortas, atirar facas precisamente, não dormir a noite e subitamente nos testar em saltos complicados e mentalmente demandados, como fazer mais uma vez quando dizíamos que aquela seria a última... e assim por diante.
 
Nós poderíamos gastar horas abrindo e fechando os dedos por exemplo, ou girando punhos e tornozelos com muita atenção e foco... Tudo isso, seguindo cegamente os ensinamentos de David, para mim era Parkour. Todos aqueles exercícios diferentes que estávamos fazendo era uma coisa só: Parkour. Era sobre achar interesse em qualquer possível movimento, ficando mais forte fisicamente e mentalmente por meio de uma cultura de desafios intermináveis.
 
Parkour é uma disciplina muito mais profunda do que apenas conseguir realizar uma manobra e colocar no YouTube. Há uma profundidade, uma busca por identidade, crescimento pessoal, procura por caminhos para o melhor entendimento da vida em geral e envolvimento com questões que poderiam beneficiar a comunidade e as pessoas de uma maneira positiva.
 
Obstáculos são os materiais para o crescimento.
 
Viva livre e movimente-se.
 
Stephane