terça-feira, 28 de agosto de 2012

Parkour além do físico


Vejo muitas pessoas antigas do Parkour batendo no peito e falando “eu treino para ser útil.” Se você treina a mais de 3 anos também já leu muito isso nas comunidades do Orkut... De fato, essa frase é muito usada em entrevistas e é um dos fortes argumentos que me fez começar a treinar. O altruísmo que envolve a filosofia do Parkour em minha opinião é o que mais o diferencia de qualquer outra disciplina.

Mas será que somos realmente úteis?

Parece que os tracers querem tanto mostrar que são úteis numa esfera maior, e acabam esquecendo que na verdade ser útil não significa apenas sair por ai entrando em prédios em chamas e saindo com crianças nos braços.

Você pode ser útil em casa. Aliás, se você quer mesmo ser uma pessoa melhor, você deve ser útil em casa... Simples atitudes como lavar uma louça, varrer um chão, lavar o carro do seu pai, capinar o quintal e qualquer coisa que você precise utilizar sua força adquirida com o Parkour dará sentido a todo seu treinamento. Se você nunca fez isso, é um conselho que te dou.

Muitas vezes julgamos que uma tarefa é simples e por isso não “merece” ser feita por nós. Onde está a utilidade nisso?

Se você se preocupar em realizar tarefas simples no seu dia-a-dia, você criará um hábito e logo se tornará algo totalmente natural ajudar as pessoas. E com o tempo elas reconhecerão sua importância, a ponto de sua ausência ser sentida. Aí sim, você se sentirá útil.

Além disso, se você é uma daquelas pessoas que se preocupam com a imagem do Parkour, é uma forma de mostrar para as pessoas que todo seu treinamento tem um sentido. De que não se trata apenas de “mais um esporte”.

Tenho treinado muito com pessoas diferentes ultimamente e notei que esse altruísmo está se perdendo. Eu sinto que as pessoas querem ajudar as outras, mas não sabem como. Por isso vou citar algumas atitudes que tenho tomado há alguns anos.

- Comece realizando tarefas simples que estão pendentes dentro da sua própria casa. Exemplos: trocar uma lâmpada, pregar um quadro, organizar os livros e documentos, consertar móveis... Crie este hábito!

- Nunca recuse uma tarefa. Se você não sabe, aprenda (a internet está ai pra isso).

- Não deixe que a vergonha seja um obstáculo na hora de ajudar as pessoas. Para isso exercite sua autoconfiança: faça coisas "idiotas" na frente de pessoas que você não conhece e repare que só existem duas reações. Ou elas te ignoram, ou elas olham para você com olhar de superioridade, e depois te ignoram. Num nível mais avançado, faça as mesmas coisas idiotas na frente de pessoas que te conheçam. Adivinhe a reação delas?

Estas são apenas algumas das atitudes que eu tenho tomado durante estes anos. Você não precisa segui-las à risca... Crie sua própria conduta, mas tenha em mente que assim como a parte física, o altruísmo precisa ser aperfeiçoado dia-a-dia.

Agora se você não liga para altruísmo e não acha que vale a pena fazer um esforço para ser uma pessoa melhor. Esqueça tudo o que leu e continue sendo apenas mais um peso na sociedade.

Até!

"Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
Bill Gates

domingo, 19 de agosto de 2012

Vaidade: o maior obstáculo a ser superado pelos tracers


Para entender este texto, você precisa saber o que é: climb, precisão, cat leapspeed, vaults.

Você pode até discordar no primeiro momento. Mas se analisar bem vai concordar comigo quando eu digo que os tracers são as pessoas mais vaidosas que se pode conhecer.

Para provar isto, vou destacar aqui alguns pontos que me levaram a chegar nesta conclusão e, por favor, não leve para o lado pessoal... Eu também me encaixo perfeitamente em todos os pontos apresentados. São defeitos meus que eu observei em outras pessoas e que eu me sinto seguro em apontá-los.

A vaidade dos tracers se reflete tanto na atitude, quando alguém crítica a sua prática (ou a forma como você a pratica), como também se reflete na movimentação. Sim! A movimentação. Aquela que você diz ser útil e busca cem por cento de eficiência... Santa hipocrisia.

a) O Climb 

Sei que muita gente vai querer me bater por isso. Mas eu afirmo, com a maior cara de pau possível: a forma como “climbamos” nos treinos é totalmente ineficiente.

A técnica consiste basicamente em dar uma joelhada pra cima ao mesmo tempo em que você puxa seu corpo até a posição que você está em cima do muro. Para mim o erro está nessa joelhada para cima... Desde que comecei a observar estas coisas, sempre quando vejo alguém climbando desta forma eu penso “Se tivesse um pitbull atrás, já era”. O tempo que se perde posicionando a perna e dando aquele impulso com ela é muito grande... Por mais que seu climb seja foda (e tem uns que realmente são muito rápidos e leves), sempre haverá uma perda de tempo no processo. 

De uns tempos para cá tento adaptar meus climbs de uma forma mais eficiente. Esta adaptação consiste basicamente em climbar do jeito que você está no muro, não importando a posição da perna nem a forma como sua mão está posicionada. Com isto eu pude observar que eu uso mais força, porém o climb em si, apesar de sair menos certinho/estético, é mais rápido e eu não preciso me preocupar com técnica.

b) O Salto de Precisão

Será que cair com os dois pés simultaneamente sobre um muro fino ou um corrimão é a maneira mais eficiente? Eu fico me imaginando correndo de algo (ou atrás de algo) e me deparando com um salto desse... Sinceramente, eu não me arriscaria a fazer um salto deste pelos seguintes motivos:
• Se eu estivesse correndo meu nível de concentração não seria o mesmo e o risco de eu errar aumentaria muito;
• Provavelmente eu não conheceria o obstáculo. Logo não saberia se a superfície está escorregadia, molhada ou se a estrutura suportaria meu peso;
• Eu não teria tempo de pensar.
Fora estes três fatores, eu acredito que estaria correndo e parar para fazer o salto de precisão seria perda de tempo. Então, eu acredito que neste tipo de situação a melhor forma de realizar este tipo de salto seria caindo com apenas uma perna no corrimão/muro. Quem já fez isso sabe que você tem muito mais confiança fazendo isto. Desta forma você não vai precisar parar; se seu pé escorregar você não vai cair pra frente igual uma banana; se seu impulso for insuficiente, você ainda tem chance de agarrar de cat leap.

É claro que aqui eu estou olhando por um ponto de vista mais prático. Em nível de treinamento eu acredito que tudo é válido. Mas se um dia precisar usar isto, eu espero que já tenha analisado assim como eu estes pontos.

c)  Ultrapassagem de Pequenos Obstáculos

Parece meio óbvio que a melhor maneira de ultrapassar um obstáculo é desviando-o quando possível. Mas se não tiver jeito, você precisa escolher se vai pulá-lo ou se vai ultrapassá-lo de alguma outra forma. Se a altura for muito alta para você pular direto, acredito que o único movimento que te dera segurança e não fará você perder velocidade é o speed. Cada pessoa dá um nome diferente pra este movimento, então saiba que estou falando disso:



Não é por acaso que deram o nome para este movimento de "velocidade". 

O que vejo nos treinos são as pessoas treinamento uma variedade infinita de movimentos espetaculares e esquecendo deste movimento básico... Eu particularmente venho dedicando uma parte do meu treino a usar o speed da forma mais rápida possível e em diferentes obstáculos. Notei uma grande evolução e, de todos os vaults que conheço, afirmo que este é o que mais tenho confiança de usar em uma situação de risco. 

Existem muitos outros pontos que eu poderia escrever aqui. Mas procurei fazer uma análise dos mais óbvios e dos movimentos mais comuns nos treinos cotidianos. Gostaria muito de reproduzir estas idéias em vídeo, fazendo comparações e marcando o tempo de cada movimento... Mas infelizmente não tenho câmera para isto. Se um dia fizer, posto por aqui.

Não precisa nem falar que tudo que eu escrevi aqui é baseado na minha análise. Não sou dono da verdade e nada aqui é definitivo. TUDO pode ser questionado, analisado ou criticado... Portanto eu ficaria muito feliz em ouvir a opinião de outras pessoas sobre isto.

Se conselho fosse bom, não seria de graça. Mas se eu posso deixar um conselho para os amigos que leram esta baboseira toda que escrevi, será: dediquem um tempo do seu treino a verificar estas falhas e busque melhora-las.

Um dia você pode precisar de verdade do parkour. 

Falou x)